TELFAR BAG: the Bushwick Birkin

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Para os apaixonados pelo mundo fashion, é muito fácil resumir o comportamento de uma geração pelas bolsas de luxo que marcaram cada época. Os anos 80 tiveram os excessos de monogramas reluzentes como na Classic Chanel revisitada por Lagerfeld; os anos 90 tiveram a Fendi Baguette, endossada por Carrie Bradshaw nos episódios de Sex in the City; os anos 2000 trouxeram a enorme Chloé Paddington, que estava alinhada com os excessos de Paris Hilton e Lindsay Lohan, e em 2010 o minimalismo da Bucket Bag de Mansur Gavriel deixou todos de boca aberta.

 

Seguindo essa lógica, nada mais natural que o momento atual ser marcado por um produto sem gênero, provocador e inclusivo. A Telfar Bag, bolsa da marca americana criada pelo designer Telfar Clemens, é a queridinha da vez e está presente em centenas de editoriais e reportagens sobre tendências. E para melhorar, ainda ganhou o apelido de “Bushwick Birkin” – A Birkin – bolsa icônica da marca Hermès – do bairro Bushwick, localizado no Brooklin, em Nova York.

 

Mas você conhece a história por trás dessa bolsa?

 

 

A Telfar Bag é uma shopping bag, feita em material sintético, quadrada e com alças duplas. Apresenta as iniciais “TC” em relevo e vêm em três tamanhos e nove cores diferentes. Simples assim.

 

O designer conta que a ideia surgiu durante o Natal, olhando as pessoas caminhando com suas sacolas de papel pra cima e para baixo. Ali percebeu o potencial na silhueta unissex e não perdeu tempo, medindo uma sacola da loja Bloomingdales para fazer a primeira amostra.

 

A bolsa fez sua estreia em um desfile de 2014 de Telfar, mas foi em 2017, quando a marca ganhou um grande prêmio em dinheiro da Vogue Fashion Fund, que pôde investir na ideia e produzir mais bolsas. “Quando encomendamos 100 bolsas, foi o maior pedido que já tínhamos feito para o nosso site. Elas se esgotaram da noite para o dia. Então encomendamos 300, depois 1.000. Nós vendemos o dia todo, todos os dias.” conta Clemens.

 

Não demorou muito para a Telfar Bag passar a ser reconhecida como a it bag do momento. Mas colocá-la na mesma categoria que bolsas como a Chloé Paddington ou Givenchy Drew não lhe faz justiça: o trabalho altamente questionador do designer transformou a sua bolsa em um símbolo de identidade de grupo para os nova-iorquinos jovens e criativos, especialmente negros, dando-lhes uma representação mais ampla em um mundo da moda dominado por brancos.

 

imagem thecut.com fotógrafo Justin French

Telfar Clemens não é nenhum novato na indústria da moda: o estilista liberiano-americano estreou em 2005, com apenas 19 anos. Quando começou, tinha certeza que “alguém como eu não era considerado um cliente de moda”, conta. Então ele decidiu reverter isso.

 

Foi exatamente o esforço por uma postura mais inclusiva na moda e desafiando definições de gênero que o fez chamar atenção do mundo fashion. Com o slogan Não para você – para todo mundo, Clemens descreve sua marca como “sem gênero, democrática e transformadora”.

 

As peças são intencionalmente utilitárias, uma escolha estética que visa desafiar a ideia de que a moda de luxo deve ser inacessível para a maioria das pessoas. O objetivo é criar produtos que qualquer pessoa possa usar, independentemente de sexo ou orçamento.

 

Segundo Shelby Ivey Christie, ativista e influenciadora negra na moda, o que Clemens criou se define como um mini-estudo sobre classicismo e racismo na moda, observando que o designer trouxe acessibilidade ao luxo, um tabu que nem todos gostam de quebrar. “As bolsas da Telfar têm um preço acessível, o que permite que uma base de consumidores mais jovem e multicultural os atinja”, diz ela. “Está mudando a ideia de que luxo é sinônimo de exclusividade”.

 

Segundo muitos artistas, as bolsas da Telfar são mais que um acessório legal, são uma declaração política. Poucos designers negros conseguiram elevar-se ao nível de aceitação de Telfar Clemens em todo o setor, de modo que apoiá-lo e elevar o seu sucesso é uma maneira de informar à indústria da moda o valor da diversidade.

 

A Telfar Bag foi vista sendo usada por artistas famosos, em editoriais de revistas chiques e até no famoso Baile do Met, mas o verdadeiro poder da bolsa vem de seus muitos jovens fãs.

 

 

Kiara Ventura, uma curadora de 23 anos do Bronx, diz estar orgulhosa de estar carregando uma bolsa de um estilista negro. “Várias vezes, as marcas de luxo falharam em suas propagandas e marketing, porque obviamente há poucas ou nenhuma pessoa negra ou parda em sua equipe. Quando olho para os anúncios da Telfar, vejo pessoas negras e pardas, vejo pessoas diferentes, vejo como é uma marca sem gênero. Acho que já é hora de o mundo apoiar uma marca genuinamente inclusiva. “

 

E como Clemens construiu um espaço acolhedor e foi acolhido dentro do mundo da moda, muitas vezes fechado, as pessoas que possuem a bolsa se sentem conectadas umas às outras. “Quando uso a minha, parece um distintivo de honra ou um escudo. Definitivamente, me sinto mais confiante”, diz Marcos Bonilla, 20 anos, um estudante do sul do Bronx. “Os donos de bolsas Telfar param na rua para iniciar conversas. É como fazer parte de uma sociedade secreta”, conta com orgulho.

 

“No final das contas, é mais do que moda. É sobre visibilidade e poder “

(Telfar Clemens)

 
 

imagens the cut, instagram @telfarglobal, dazed magazine

 

Fonte: Revista Vogue – Dazed Magazine – The Guardian – The Cut – Then